Acredito que todos nós somos como telas em branco, mas telas
gigantes, que vão ficando coloridas à medida que as vamos enchendo de cor.
Cores que espelham tudo, espelham as tristezas, mas também as alegrias, as
nossas perdas, mas também as nossas conquistas. Cores que vão contando uma
história, a nossa história. Uma história que revela o melhor, mas também o pior
de nós e do que vivemos, do que sentimos. O que importa é que é tudo nosso, a
tela deixa de estar branca e vai ficando cada vez mais colorida e não há como
voltar atrás, não. Um salpico e lá fica a cor marcada, uma pessoa que se cruza
na nossa vida. Há pessoas que apenas passam, mal damos por elas, mas lá ficou o
salpico, outras que vão ficando e essas vão deixando um desenho na nossa tela
da vida. Umas ficam mais, tempo, que outras, umas deixam desenhos mais bonitos
que outras, mas todas deixam qualquer coisa na nossa tela, lá fica a marca e
não há como a apagar. Não, não há como voltar atrás. Às vezes conhecemos
pessoas que mudam as cores da nossa tela, tal é a intensidade das cores que lá
deixam cair, tal é o desenho que vão construindo que tudo muda. Mudam o nosso
mundo, levam-nos a sonhar, a acreditar, levam-nos a viver numa tela harmoniosa e
repleta de cores, como se vivêssemos num autêntico arco-íris. Habituamo-nos ao
arco-íris e não queremos mais ter aquela tela cinzenta com pequenos salpicos de
cor, então agarramo-nos a essas pessoas, sem contudo perceber que todas as
pessoas têm um prazo na nossa vida, não ficam a desenhar a nossa tela para todo
o sempre. Umas duram mais tempo que outras mas todas elas nos ensinam algo e
marcam de alguma maneira, quase como se surgissem na nossa vida na altura certa
e fizessem o seu trabalho e depois nos “abandonassem”. Mas não quer dizer
necessariamente que isso seja mau, não. Na altura claro que não o entendemos,
mas com o tempo vamos olhando para a nossa tela e compreendendo melhor cada
cor, cada desenho que lá ficou e aí sim entendemos, todos ficaram lá marcados,
todos eles contam a nossa história e fazem parte do que somos hoje. Vale a pena
olharmos para a nossa tela, agradecer, porque desenhos bons ou maus, todos eles
são importantes para aprendermos a continuar a construir a nossa história.
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