segunda-feira, 27 de abril de 2015

Dou ouvidos ao meu coração?

Sinto que andei para trás. Que hoje apenas numas horas voltei ao começo. Ao começo da minha viagem. Há uns tempos, sabem, comecei a muito custo uma viagem longa, mas bem longa mesmo até a um lugar bem remoto que se chama de esquecimento. Iniciei uma viagem para poder começar a esquecer-me.

Primeiro levei o meu tempo a decidir fazer a viagem, foram dias, meses a pensar, a organizar as ideias, a preparar-me para a viagem e mesmo durante todo esse tempo as dúvidas foram muitas e desisti da viagem inúmeras vezes, acreditem.

Finalmente pus-me em viagem. Não me perguntem quando, porque não vos saberia responder. Simplesmente, um dia dei por mim já na viagem. Não foi propriamente uma decisão que tenha tomado conscientemente. Apenas quando despertava, quando saía da minha bolha, olhava em volta e via que já estava em viagem e mesmo nessas vezes, alturas havia em que a vontade de desistir de esquecer era avassaladora. Outras vezes retomava à minha bolha e ali ficava a recordar e a tentar não recordar, a pensar, a sentir aquele sufoco, aquela moínha, mas ao mesmo tempo a tentar não sentir, era capaz de ficar ali na minha bolha para sempre, desconfio.   

Por isso, não pensem que foi uma viagem calma e sem percalços. Foi sim uma viagem confusa. Uma viagem atribulada. Muitas e muitas vezes perdi o rumo e tive que voltar atrás e reorganizar a viagem. Muitas outras vezes acabei perdida e precisei de me encontrar no caminho. Tantas vezes desisti da viagem. Tantas e tantas vezes recusei-me a continuar o caminho, sem pensar até onde já tinha conseguido chegar. O que já tinha alcançado. Como vos digo foi um percurso confuso e quase que feito de forma semiconsciente. Sempre que pensava bem sobre a viagem, sempre que recordava, que organizava ideias, sempre que definia bem o que eu queria, lá ia eu numa viagem de regresso a casa, para a bolha e sem querer mais de lá sair.

 A muito custo mesmo fui conseguindo avançar alguma coisa nesta viagem tresloucada. Agora, agora que fui quase que sugada de volta, agora que tudo o que fui alcançando a muito custo se desvaneceu no ar, que faço eu? Estou tão confusa. Dou ouvidos ao meu coração? Volto a acreditar? Poderei, eu, ignorar a esperança gritante que quase me perfura o peito?


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