Hoje vi-te. Continuas
igual. Continua tudo na mesma, diria. Aliás, diria até que continuamos os dois
na mesma. Apenas me pareceste mais ausente. Mais distante, com os pensamentos
meio perdidos. Mas continuas a viver a tua vida, é verdade. Não poderia ser de
outra forma. Continuas aí no teu mundo, também é certo. A vida continua, quer
queiramos quer não. Também eu continuo a
viver a minha vida, pelo menos tento. E também, eu, dou por mim perdida nos
meus pensamentos. Quase como se vivesse numa bolha, só minha. Onde posso sonhar
e perder-me em pensamentos à vontade. Onde posso estar sozinha e ninguém me
alcançar. Oh, como eu te entendo. Como eu entendo a tua bolha.
Na verdade,
não te vi. Tu viste-me que é diferente e eu retribuí o olhar. Foste TU que me
viste primeiro. Eu apenas senti o teu calor, o calor do teu olhar pousado em
mim. Levantei o rosto à tua procura, pensando estar a endoidecer de vez. E, foi
então que te vi. O meu olhar procurou então o teu. Quando se cruzaram não foram
precisas quaisquer palavras. Não foi preciso nada, aliás. Tudo foi dito no
silêncio daqueles olhares. Nada ficou por dizer. O mundo parou. Tudo ficou
perdido no tempo e voltámos a ser apenas nós os dois ali. O teu olhar não
largou o meu e o meu não largou o teu. Quanto tempo passou? Não me perguntem,
porque o tempo parou e estávamos num outro lugar, as pessoas desapareceram e
tudo à nossa volta deixou de existir. Ali, estávamos apenas nós dois. O teu
olhar dizia-me baixinho ao ouvido “sinto a tua falta” e o meu respondia-te “não
mais que eu”. Antes de sermos quase que obrigados a desviar o olhar ainda te
aproximaste de mim e ficaste parado a olhar-me. Foi então que pude eu também
olhar-te. O teu olhar sorria para mim, daquela maneira tão doce. O teu sorriso
convidava o meu. Os teus olhos pousaram nos meus lábios e foi telepatia. Quase
que pude ouvir-te “quero beijar-te” e quase que respondi “e eu a TI”. Tínhamos
que parar por ali. Estávamos que nem dois perdidos ali em pé no meio de toda
aquela gente a olhar fixamente um para o outro.
TU vieste na minha direcção, eu
aproximei-me de TI e dei-te o meu rosto para receber um beijo teu, como tantas
outras vezes o fiz e disse-te bem baixinho “gosto de TI”, TU
beijaste-me na bochecha, e com os dedos tocaste ao de leve no meu rosto e respondeste-me
“eu gosto mais”. E assim voltou tudo. Voltei a apaixonar-me por TI. Estou perdida.
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